Falsa Mega-Sena: quadrilha dá golpe de mais de R$ 70 milhões na CEF
Um dos suspeitos é Ernesto Vieira de Carvalho Neto, suplente de deputado federal, que disputou a eleição de 2010 pelo PMDB do Maranhão.
Um homem diz que ganhou na Mega-Sena, vai até a Caixa receber o prêmio, e mais de R$ 70 milhões entram na conta dele. Parece aquelas histórias de filme policial, mas aconteceu mesmo.
Só que o sujeito estava mentindo, não tinha ganhado em loteria nenhuma. A reportagem de Rodrigo Vaz e Vladimir Netto mostra todos os detalhes desse golpe.
Uma fraude milionária. “É um esquema muito bem montado, grande. O que chamada mais a atenção é a ousadia dessa quadrilha”, descreve o delegado da PF.
R$ 73 milhões, para o pagamento de um falso prêmio da Mega-Sena. “É o maior golpe já consumado contra a Caixa Econômica Federal”, diz Aldirla Albuquerque, procuradora da República.
Pessoas ficam ricas de um dia pra noite sem fazer nenhuma aposta na mais famosa loteria brasileira.
Um dos suspeitos é Ernesto Vieira de Carvalho Neto, suplente de deputado federal, que disputou a eleição de 2010 pelo PMDB do Maranhão.
Ernesto está preso há oito dias. A partir de informações obtidas com exclusividade, o Fantástico mostra, passo a passo, como aconteceu a fraude.
Agência da Caixa em Tocantinópolis, cidade de 23 mil habitantes, no norte de Tocantins, em 5 de dezembro passado. Mesmo de férias, o gerente-geral do banco - Robson Pereira do Nascimento - apareceu para trabalhar.
O gerente-geral disse que um homem apresentou um bilhete premiado da Mega-Sena e ele fez o pagamento. Um homem, segundo o gerente, se identificou como Márcio Xavier Gomes de Souza.
Os investigadores dizem que era um nome falso, que - na verdade - ele se chama Márcio Xavier de Lima e recebeu R$ 35 mil do esquema. Ele está sendo procurado pela polícia.
Para abrir a conta bancária e receber o falso prêmio, foi usado um comprovante de residência verdadeiro. E é aí que entra na história o suplente de deputado Ernesto Vieira.
De acordo com as investigações, para conseguir o documento, o político enganou uma mulher e ela entregou a ele uma conta de luz.
“Sou ex-funcionária dele e, na época, ele chegou, pediu a conta. Segundo ele, queria só ver o CEP. Não desconfiei de nada”, diz Ivonete Amorim - ex-funcionária de Ernesto Vieira.
Mesmo com o comprovante de residência em outro nome, o gerente-geral abriu a conta para Márcio Xavier. E fez mais.
“O gerente tem uma senha que é possível transferir um montante de dinheiro”, diz Omar Peplow delegado da Polícia Federal.
Segundo as investigações, o gerente Robson Pereira do Nascimento transferiu R$ 73 milhões para a conta da quadrilha. Ele disse que mais tarde apresentaria o bilhete premiado e isso, de acordo com a Polícia Federal, nunca aconteceu.
“Cabe à Caixa Econômica melhorar o seu sistema de proteção. Ter uma contra senha, o superintendente regional, talvez. Evitando assim que um gerente possa ser cooptado por uma quadrilha”, afirma o delegado da PF.
O golpe foi descoberto seis dias depois da transferência dos R$ 73 milhões.
A Polícia Federal procurou as imagens do circuito interno de segurança do banco. Mas, nem as câmeras de dentro, nem as câmeras de fora da agência estavam funcionando naquele dia.
Robson Pereira do Nascimento, que estava no cargo havia oito meses, foi demitido. E, agora, está preso.
“O senhor Robson seguiu todo o procedimento, enviou um bilhete à superintendência da Caixa. O pagamento só foi feito porque a superintendência validou o documento. O senhor Robson não tem autonomia de fazer um pagamento de um prêmio de R$ 73 milhões”, diz Milton Carneiro Jr. - advogado Robson Pereira do Nascimento.
“Não existiu esse prêmio. Não existiu esse bilhete. Não existiu autorização da Caixa para pagar esse dinheiro”, afirma o delegado da PF.
A Caixa disse que o gerente-geral tinha, sim, autonomia para liberar o dinheiro e explicou o procedimento correto para o pagamento de um prêmio:
O funcionário deve acessar o sistema do banco e informar o código de segurança que existe no bilhete premiado - o que não foi feito em Tocantinópolis.
“Existe a informação de que foram tentadas quatro vezes esse tipo de golpe na Caixa Econômica e esse deu certo”, diz o delegado da PF.
“Os processos de loterias estão íntegros, continuam íntegros, como sempre estiveram dentro da gestão da Caixa. Fiquem tranquilos que as loterias federais estão totalmente seguras”, diz Gilson Braga, superintendente nacional de loterias da Caixa.
A maior parte da fortuna que veio parar em uma agência foi pulverizada, passando de conta em conta. Cerca de 200 já foram identificadas em vários estados do Brasil.
Um exemplo: segundo a Polícia Federal, R$ 42 milhões foram pra empresa Phama Transportes.
O endereço onde ficaria a sede, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, Bahia, é falso. Antônio Rodrigues Filho é um suposto procurador dessa firma. Na conta pessoal dele, apareceram mais de R$ 12 milhões. No papel, consta que ele trabalha em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. Mas o endereço não existe. Antônio está foragido.
Já o suplente de deputado federal foi preso um mês e meio depois do desvio de dinheiro, em Estreito, Maranhão, a cerca de 30 quilômetros de Tocantinópolis. Ele é cliente da agência onde aconteceu a fraude e, de acordo com a Polícia Federal, é suspeito de comprar um avião com o dinheiro do golpe.
Uma empresa de Ernesto Vieira ainda recebeu R$ 13 milhões. Segundo o advogado, essa quantia se refere à venda de um terreno comprado por Márcio Xavier - o homem que recebeu o prêmio da falsa Mega-Sena.
“O seu Ernesto foi vítima desse caso. Induziu ele a crer que estaria fazendo um negócio sério”, diz Everson Cavalcanti - advogado de Ernesto Vieira.
O advogado confirma que o suplente de deputado pegou o comprovante de residência da ex-funcionária. Mas diz que foi um pedido do comprador do terreno, pra fechar o negócio.
“Esse comprador queria preservar a imagem e esse comprador pediu uma conta. Ele disse: "eu posso fazer isso, uma ex-funcionária minha tem um endereço lá, eu te forneço", afirma Everson Cavalcanti, advogado de Ernesto Vieira.
Em um vídeo, o filho de Ernesto Vieira parece que está rico.
“Nós estamos soltos aí na atividade. Milionário. Gastando dinheiro aí e jogando dinheiro fora”, diz no vídeo.
O advogado alega que o jovem não se referia ao prêmio da falsa Mega-Sena. “Ele sabe que o pai fez a venda de uma área e que era de um valor milionário”, diz o advogado de Ernesto Vieira.
Segundo a Caixa, cerca de R$ 64 milhões já foram recuperados. Mas ainda faltam R$ 9 milhões.
“As investigações vão continuar. No decorrer delas, podem ter sim, outras pessoas envolvidas. Temos certeza de que essa fraude não será mais um número na aritmética da impunidade. Nós vamos buscar punir todos”, afirma Aldirla Pereira de Albuquerque - procuradora da República
Só que o sujeito estava mentindo, não tinha ganhado em loteria nenhuma. A reportagem de Rodrigo Vaz e Vladimir Netto mostra todos os detalhes desse golpe.
Uma fraude milionária. “É um esquema muito bem montado, grande. O que chamada mais a atenção é a ousadia dessa quadrilha”, descreve o delegado da PF.
R$ 73 milhões, para o pagamento de um falso prêmio da Mega-Sena. “É o maior golpe já consumado contra a Caixa Econômica Federal”, diz Aldirla Albuquerque, procuradora da República.
Pessoas ficam ricas de um dia pra noite sem fazer nenhuma aposta na mais famosa loteria brasileira.
Um dos suspeitos é Ernesto Vieira de Carvalho Neto, suplente de deputado federal, que disputou a eleição de 2010 pelo PMDB do Maranhão.
Ernesto está preso há oito dias. A partir de informações obtidas com exclusividade, o Fantástico mostra, passo a passo, como aconteceu a fraude.
Agência da Caixa em Tocantinópolis, cidade de 23 mil habitantes, no norte de Tocantins, em 5 de dezembro passado. Mesmo de férias, o gerente-geral do banco - Robson Pereira do Nascimento - apareceu para trabalhar.
O gerente-geral disse que um homem apresentou um bilhete premiado da Mega-Sena e ele fez o pagamento. Um homem, segundo o gerente, se identificou como Márcio Xavier Gomes de Souza.
Os investigadores dizem que era um nome falso, que - na verdade - ele se chama Márcio Xavier de Lima e recebeu R$ 35 mil do esquema. Ele está sendo procurado pela polícia.
Para abrir a conta bancária e receber o falso prêmio, foi usado um comprovante de residência verdadeiro. E é aí que entra na história o suplente de deputado Ernesto Vieira.
De acordo com as investigações, para conseguir o documento, o político enganou uma mulher e ela entregou a ele uma conta de luz.
“Sou ex-funcionária dele e, na época, ele chegou, pediu a conta. Segundo ele, queria só ver o CEP. Não desconfiei de nada”, diz Ivonete Amorim - ex-funcionária de Ernesto Vieira.
Mesmo com o comprovante de residência em outro nome, o gerente-geral abriu a conta para Márcio Xavier. E fez mais.
“O gerente tem uma senha que é possível transferir um montante de dinheiro”, diz Omar Peplow delegado da Polícia Federal.
Segundo as investigações, o gerente Robson Pereira do Nascimento transferiu R$ 73 milhões para a conta da quadrilha. Ele disse que mais tarde apresentaria o bilhete premiado e isso, de acordo com a Polícia Federal, nunca aconteceu.
“Cabe à Caixa Econômica melhorar o seu sistema de proteção. Ter uma contra senha, o superintendente regional, talvez. Evitando assim que um gerente possa ser cooptado por uma quadrilha”, afirma o delegado da PF.
O golpe foi descoberto seis dias depois da transferência dos R$ 73 milhões.
A Polícia Federal procurou as imagens do circuito interno de segurança do banco. Mas, nem as câmeras de dentro, nem as câmeras de fora da agência estavam funcionando naquele dia.
Robson Pereira do Nascimento, que estava no cargo havia oito meses, foi demitido. E, agora, está preso.
“O senhor Robson seguiu todo o procedimento, enviou um bilhete à superintendência da Caixa. O pagamento só foi feito porque a superintendência validou o documento. O senhor Robson não tem autonomia de fazer um pagamento de um prêmio de R$ 73 milhões”, diz Milton Carneiro Jr. - advogado Robson Pereira do Nascimento.
“Não existiu esse prêmio. Não existiu esse bilhete. Não existiu autorização da Caixa para pagar esse dinheiro”, afirma o delegado da PF.
A Caixa disse que o gerente-geral tinha, sim, autonomia para liberar o dinheiro e explicou o procedimento correto para o pagamento de um prêmio:
O funcionário deve acessar o sistema do banco e informar o código de segurança que existe no bilhete premiado - o que não foi feito em Tocantinópolis.
“Existe a informação de que foram tentadas quatro vezes esse tipo de golpe na Caixa Econômica e esse deu certo”, diz o delegado da PF.
“Os processos de loterias estão íntegros, continuam íntegros, como sempre estiveram dentro da gestão da Caixa. Fiquem tranquilos que as loterias federais estão totalmente seguras”, diz Gilson Braga, superintendente nacional de loterias da Caixa.
A maior parte da fortuna que veio parar em uma agência foi pulverizada, passando de conta em conta. Cerca de 200 já foram identificadas em vários estados do Brasil.
Um exemplo: segundo a Polícia Federal, R$ 42 milhões foram pra empresa Phama Transportes.
O endereço onde ficaria a sede, em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador, Bahia, é falso. Antônio Rodrigues Filho é um suposto procurador dessa firma. Na conta pessoal dele, apareceram mais de R$ 12 milhões. No papel, consta que ele trabalha em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. Mas o endereço não existe. Antônio está foragido.
Já o suplente de deputado federal foi preso um mês e meio depois do desvio de dinheiro, em Estreito, Maranhão, a cerca de 30 quilômetros de Tocantinópolis. Ele é cliente da agência onde aconteceu a fraude e, de acordo com a Polícia Federal, é suspeito de comprar um avião com o dinheiro do golpe.
Uma empresa de Ernesto Vieira ainda recebeu R$ 13 milhões. Segundo o advogado, essa quantia se refere à venda de um terreno comprado por Márcio Xavier - o homem que recebeu o prêmio da falsa Mega-Sena.
“O seu Ernesto foi vítima desse caso. Induziu ele a crer que estaria fazendo um negócio sério”, diz Everson Cavalcanti - advogado de Ernesto Vieira.
O advogado confirma que o suplente de deputado pegou o comprovante de residência da ex-funcionária. Mas diz que foi um pedido do comprador do terreno, pra fechar o negócio.
“Esse comprador queria preservar a imagem e esse comprador pediu uma conta. Ele disse: "eu posso fazer isso, uma ex-funcionária minha tem um endereço lá, eu te forneço", afirma Everson Cavalcanti, advogado de Ernesto Vieira.
Em um vídeo, o filho de Ernesto Vieira parece que está rico.
“Nós estamos soltos aí na atividade. Milionário. Gastando dinheiro aí e jogando dinheiro fora”, diz no vídeo.
O advogado alega que o jovem não se referia ao prêmio da falsa Mega-Sena. “Ele sabe que o pai fez a venda de uma área e que era de um valor milionário”, diz o advogado de Ernesto Vieira.
Segundo a Caixa, cerca de R$ 64 milhões já foram recuperados. Mas ainda faltam R$ 9 milhões.
“As investigações vão continuar. No decorrer delas, podem ter sim, outras pessoas envolvidas. Temos certeza de que essa fraude não será mais um número na aritmética da impunidade. Nós vamos buscar punir todos”, afirma Aldirla Pereira de Albuquerque - procuradora da República
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